quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Montanha Louca. Prefácio.

Foto: Lívia Leite.

Sou uma montanha como outra qualquer, mais uma entre as tantas das Minas Gerais, do Brasil, de Latino-América, do Continente Americano, do Planeta Terra, um dos quarenta mil Mundos Criados. Sou baixinha, desabitada, meio atarracada, arredondada e toda coberta de pelos dourados.
Houve algum som um tempo atrás, vozes melodiosas, corposas, afinadas e arrastavam pedras de lá para cá, também uma amazona encantada num cavalo marrom, depois ... nada.
Então agora há pouco, numa noite gelada de Agosto seriam umas 3:40 da madrugada quando umas luzes bem fortes começaram a me iluminar de cima; como holofotes gigantes me focando, era eu? é comigo a coisa? tentei ver quem emitia as luzes, mas não consegui no final sobraram dois feixes de luz de uma coloração azul intenso e o outro de um laranja vibrante. Após esta breve exposição noturna que começaram a chegar as vozes novamente. Era um grupo, embora não consiga saber ao certo quantos, nem tampouco discernir se a voz vinha de um ou de outro. Eu chamo eles de passageiros, eles chamam a si mesmo de habitantes; que seja!
Se estabeleceram perto do topo, naquele lugar em que seus ancestrais tinham depositado as pedras arrastadas, enfileirado à modo de marcador, divisor talvez... ou apenas um simples sinalizador do melhor caminho até o cume; e pareciam bastante organizados. Um pequeno salão encravado no chão com uma lona verde por cima era o local das refeições locuções e jogos de baralho nos intermináveis dias de chuva. Era uma espécie de clã? inconexo, multicolorido, multiétnico. No início seus movimentos não faziam nenhum sentido para mim, se levantavam com o Sol e fitavam o horizonte, numa espécie de saudação?, depois acendiam um fogo e ali perambulavam o resto do dia, se alimentando, conversando, indo e vindo. Até que um dia, eu vi, aquele maior, o que falava mais, começou a capturar estrelas num caldeirão num movimento horário, com uma colher de pau; sim! nesse momento tive certeza de que alguma coisa de fato estava acontecendo: aquele indivíduo ali capturava as estrelas numa sopa que dava para alimentar os outros pequenos, órfãos da vida, flávias, mortos para o amor e rejeitados pelo Mundo. Tinha decidido por vocação, amá-los, amá-los por que sim, por capricho, por vontade e determinação, para fazer sua revolução pessoal, para dar um passo em direção ao objetivo mais nobre de todos: Salvar a única espécie em extinção: a Humana.
 Tanto fez tanto faz que acabou por atrair as atenções dos "mais Altos".
Eu era uma montanha como outra qualquer, mas foi à partir desse momento que comecei a me sentir importante, escolhida, destacada, algo de grandioso estava se gestando dentro de mim. as vozes começaram a aumentar e também o número de assentamentos. Devia ser o mês de Agosto, e talvez fosse o fim da tarde de um ano em que partiram Cazuza e depois Raul; foi então que eu vi as luzes novamente, elas saiam de um corpo deitado no chão e outras vinham diretamente da noite escura, não há como negar que temos algo por aqui!
Pois É! Aqui! Em mim! Eu! Sou a Estrela da Terra, o Pôlo que nos conecta com o Céu, A Montanha Encantada, a Montanha Adorada, a Montanha Mágica, Sagrada a Montanha Iluminada, ou como me chama, às vezes, Flavia: Montanha Louca!

Flavia Mariana Klc, Montanha Louca, Novembro 8, 2017.

2 comentários:

  1. Giram as estrelas, mas seu estilo está sempre aí, inconfundível, tocante, perturbador e outras sensações indefiníveis. É o seu brilho, a sua LUZ que compartilha conosco, revelando as maravilhas desde mundo!

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